Nada de medo de agulha! O procedimento pode ser indicado no pós-treino e reduz a necessidade de uso de medicamentos anti-inflamatórios, mas exige alguns cuidados no pré-treino.
Tem medo de agulha? Pois saiba que a acupuntura é uma técnica milenar da medicina chinesa em que o uso de finas agulhas é utilizado para fins terapêuticos, em busca do equilíbrio do organismo. E na recuperação esportiva, a acupuntura não só promove o alívio da dor após uma lesão como ajuda na recuperação de rotina, como em dores musculares de início tardio, conforme aponta o estudo Acupuncture and Dry Needling for Sports Performance and Recovery (Acupuntura e Agulhamento Seco para Performance e Recuperação Esportiva, em português), publicado em junho deste ano no American College of Sports Medicine.
A acupuntura no pós-treino, portanto, tem potencial para prevenção e alívio de dores. Ela faria isso através do estímulo do sistema nervoso a partir dos acupontos, que promoveriam, entre outras coisas, a liberação de neurotransmissores como a endorfina, que está relacionada ao prazer e à diminuição da dor. Além disso, é uma ótima alternativa para quem busca hipertrofia, pois reduz a necessidade de uso de medicamentos anti-inflamatórios para combater as dores musculares.
– O uso de anti-inflamatórios reduz o ganho de massa muscular (hipertrofia). Por isso, no controle da dor e a inflamação dos treinos, a acupuntura pode ser utilizada sem este efeito colateral indesejado – garante o acupunturista Alexei Haydu, coordenador do curso de Acupuntura da Associação Brasileira de Acupuntura, em Londrina/PR.
O ex-jogador de futebol da seleção inglesa David Beckham é um dos adeptos do método, tanto que já postou em suas redes uma imagem da sua coxa cheia de agulhas.
A influencer fitness Gracyanne Barbosa é outra, e em julho compartilhou nas suas redes sociais um vídeo fazendo acupuntura para tratar uma lesão, com a legenda: “Mais uma sessão com o que salva os meus dias… As agulhas, que vocês tanto gostam de ver e têm medo ao mesmo tempo, ajudam a tratar um estiramento no vasto lateral. A liberação miofascial dói um pouquinho mas dá pra aguentar e faz toda diferença na recuperação…”
E sessões antes do treino? Sim ou não?
Depende. Se depois dos treinos e competições a acupuntura pode ser uma ótima aliada, antes de treinos e competições ela exige alguns cuidados para não interferir na performance. Dependendo da técnica usada, pode sim ser feita. Mas existem algumas técnicas de estimulação tonificantes que podem ser utilizadas antes de um treino ou de uma competição – afirma Alexei Haydu.
Mas há um alerta: caso as técnicas utilizadas forem de sedação ou relaxamento, as mais comuns, o acupunturista e o atleta devem evitá-las nos dias anteriores e próximos da competição.
– Um dos efeitos é o relaxamento muscular. Temos relatos de mesatenista, por exemplo, que fez a acupuntura horas antes de uma competição, diminuiu o reflexo e a agilidade de devolver uma bola. Você relaxa tanto o músculo que pode comprometer a sua eficiência num ambiente de torneio – revela o ortopedista André Tsai, vice-presidente do Comitê de Dor da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e presidente do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura (CMBA).
Boa para a saúde mental
Um atleta também sabe a diferença que o estado mental faz. Quando está estressado, o rendimento normalmente cai. E a acupuntura também pode ser usada para tratamento de ansiedade e depressão, entre outras questões de saúde mental.
– Se o pensamento está descansado e focado, é quando se obtém os melhores recordes. Ouso dizer que a preocupação com o estado mental do atleta é uma das situações mais importantes, pois a força muscular foi adquirida com todos os treinos realizados anteriormente, mas conseguir acessar esta força depende muito da concentração no momento decisivo – pontua Alexei Haydu.
Dói?
A acupuntura é aplicada no corpo todo em pontos localizados em articulações, tendões, fibras musculares e ligamentos. E existem locais mais dolorosos, com maior concentração de terminais nervosos, e outros menos, como nas costas. A dor é uma sensação subjetiva e individual, mas normalmente as agulhas doem o equivalente, no máximo, a puxar um pelinho. Elas são finas, cerca de 10 vezes menores do que as de injeção, com as pontas mais arredondadas, flexíveis, de aço inoxidável e descartáveis.
O tempo da sessão é, em média, de 30 a 50 minutos, podendo variar de acordo com a queixa ou até mesmo com o tipo de acompanhamento que a pessoa quer fazer.
– As sessões normalmente são realizadas semanalmente, mas conforme a situação, podem ser feitas de duas a três vezes na semana, quando o quadro é mais agudo. Após melhoria dos sintomas, espaçamos para sessões quinzenais ou até mensais. Inclusive são raras as contraindicações, já que a técnica é minimamente invasiva – conta André Tsai.
Só a acupuntura basta?
– Quando a queixa é mais leve, a acupuntura não precisa ser associada a outro tratamento, pois o corpo tem essa condição de resolver o problema quando é estimulado pelo procedimento. Agora, quando é mais grave ou mais difícil, pode ser utilizada em conjunto com medicações ou outros tratamentos – pontua Alexei Haydu.
O mais importante antes de você fazer a acupuntura é ter certeza do seu diagnóstico.
– Por exemplo, um jogador de futebol, seja profissional ou amador, torceu o joelho e está com dificuldade de pisar e de andar. Precisa fazer exames de imagem para saber se teve uma lesão de menisco ou dos ligamentos cruzados: nesses casos só uma cirurgia resolve. Se for ignorado e fizer acupuntura para tratar, vai atrasar o verdadeiro diagnóstico, pode comprometer e inclusive retardar um período adequado para uma sutura, ficando prejudicado – alerta André Tsai.
– Antes de optar pelo tratamento, é importante descobrir a formação do profissional. Se ele faz parte de algum conselho e ou se tem cursos na área – finaliza Alexei Haydu.
Fonte: Globo.com